PASSO 4: Liderança em todas as situações: Os dois aspectos cruciais
No artigo anterior, introduzimos a ideia de Liderança Situacional, uma forma de enxergar a liderança como um processo que se estabelece no contexto de uma situação. Vivemos um fluxo de situações ao longo da vida e algumas delas nos movem para uma condição em que precisamos exercer a liderança. Esse movimento acontece porque assumimos, por desejo próprio ou atribuição, a responsabilidade de influenciar uma ou mais pessoas a alcançarem um objetivo que temos em comum.
A situação de liderança se forma com o surgimento de uma meta compartilhada, um objetivo comum para um certo grupo de pessoas. Por alguma razão, que pode ser um perfil, cargo, expertise, ou interesse, um dos seus membros se mostra como fonte potencial de influência, na forma do provimento de direção e apoio aos outros enquanto rumam ao objetivo desejado. Essa é a pessoa que consideramos líder da situação.
Situações que precisam ser socialmente vencidas
Suponha que uma equipe de desenvolvedores de software receba uma missão importante como participante em um projeto maior cuja intenção é tirar a empresa de uma crise de baixa receita que ameaça sua sobrevivência. "Sair da crise" seria um exemplo de situação de liderança mais ampla, onde um CEO supostamente deveria ter, de forma simultânea, o perfil, o cargo, a expertise e o interesse para ser a liderança da situação que se apresenta.
Dentro do contexto da situação "sair da crise", liderada pela figura do CEO, há a situação "busca por aumento de receita", liderada talvez por um gestor de alto nível; e dentro desta, a situação "colocar o produto X no mercado", talvez liderada por um gerente de produto; e dentro desta, "entrega de uma release preliminar capaz de...", talvez liderada por um líder técnico; e dentro desta, "implementação da funcionalidade que...", liderada por um desenvolvedor, ou "encontrar uma forma de diminuir o tempo de resposta em...", liderada por um outro membro da equipe; e dentro desta, "apresentar as alternativas disponíveis", liderada por um consultor contratado.
No exemplo, há uma espécie de hierarquia de situações que é produzida pela estrutura organizacional. Mas as situações são melhor compreendidas como uma rede de nós interconectados que forma um tecido complexo de interações. Como bolhas na sopa fervente, durante um dia de trabalho, múltiplas situações emergem e se resolvem, o que faz com que as situações de liderança também apareçam e desapareçam ao longo do fluxo de eventos na qual todos participamos.
Em todos esses eventos, há uma situação a ser socialmente vencida, e com isso a necessidade que os líderes exerçam algum nível de influência sobre as outras pessoas envolvidas para que juntas possam alcançar esse objetivo comum. Isso torna a liderança um aspecto social que se apresenta para todos, desde o membro da equipe que precisa influenciar outros para vencer a situação de "encontrar uma forma de diminuir o tempo de resposta da sua funcionalidade" (e para isso precisa liderar a consultoria externa contratada), até o CEO da empresa que precisa vencer a situação "sair da crise".
Isso que estamos chamando de "influência" se dá em dois aspectos essenciais:
- direcionamento
- e apoio
Direcionamento, Resultados e Hard Skills
O primeiro aspecto, direcionamento, imputa à liderança a necessidade de garantir que haja clareza com relação ao quê precisa ser feito e porque. Há momentos em que a situação ou os próprios liderados esperam da pessoa líder que ela defina o que fazer e porque. Por outro lado, em situações mais complexas, a pessoa líder precisa se retirar do papel de definidora, e assumir um papel de garantidora das condições em que esse "o quê", e eventualmente também o "porquê", sejam construídos ou descobertos pelos seus liderados. Essas são as situações de solução de problemas complexos, desenvolvimento de produtos e melhoria de processos.
O aspecto do direcionamento, é assim, um hard skill a ser desenvolvido pela liderança, já que afeta e molda o resultado que será obtido com a ajuda dos liderados. Garantidora de condições, a liderança se apóia aqui em técnicas que orientam o resultado, como visão sistêmica, eficiência de fluxo, métricas e indicadores, redução de ciclos de feedback, além de muitas outras.
Apoio, Experiências e Soft Skills
O segundo aspecto da liderança é o apoio (ou suporte) que os liderados precisam para se sentirem bem com a situação. A ideia de que, para se motivar, as pessoas precisam ser estimuladas por emoções negativas como medo, ansiedade ou pressão é muito problemática. Se este for o caso, há talvez algo errado na situação em si que está sendo administrada.
Assumimos, então, a premissa de que pessoas que apresentam um estado interno positivo tendem a produzir melhores resultados. Mais do que isso, assumimos também a premissa da liderança ética, que busca promover ambientes sociais formadores de experiências positivas. Isso coloca a liderança na condição de agente de prevenção e recuperação desse estado em seus liderados.
O aspecto do apoio adotado pela liderança visa ajudar seus liderados a administrar o medo da falha, a insegurança quanto aos riscos que assumem, a tensão em face de problemas difíceis, a sobrecarga quando o trabalho se acumula, a pressão do prazo curto.
A prevenção e recuperação não se dá só no âmbito emocional, mas também no âmbito existencial. Isso se dá quando a pessoa líder trabalha, na relação com seus liderados, valores como respeito, confiança, coragem, propósito; e também habilidades como comunicação, compreensão empática e escuta ativa.
O aspecto do apoio, é assim, um soft skill a ser desenvolvido pela liderança, já que afeta e molda a experiência que será produzida pelo conjunto líder-liderados enquanto desenvolvem o trabalho que precisa ser feito.
O enlace experiência-resultado
Experiência e resultado se tornam assim, aspectos indissociáveis do trabalho colaborativo. O apoio e direcionamento da liderança conduzem um grupo para resultados e experiências. E isso tudo é viabilizado por meio do hard skills e do soft skills das pessoas envolvidas.
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