PASSO 3: Aprender a liderar é como aprender a dançar
Muito se diz que liderança não se resume a um cargo. Que, de fato, não se manifesta necessariamente em uma posição hierárquica, papel ou função em uma organização. Também muito se fala sobre a insuficiência ou fragilidade de uma liderança designada, e da diferença entre o líder e o gestor. Mas o que não se fala muito é sobre o fato de que todos, inevitavelmente, somos ou seremos líderes em algum momento. É disso que quero falar nesse artigo.
No livro Leadership: Theory and Practice, Peter Northouse faz um excelente trabalho de compilação de um grande número de teorias e práticas relacionadas ao tema da liderança. Ele também faz um apanhado histórico e cultural sobre o tema, e sobre a definição de liderança em si. Diante de tantos conceitos e estilos diferentes de liderança, ele precisou adotar uma definição própria que fosse capaz de sintetizar os elementos centrais de todas as outras. Ele definiu a liderança da seguinte maneira:
Liderança é o processo pelo qual um indivíduo influencia um grupo de outras pessoas a alcançarem um objetivo comum.
O grande insight dessa definição, é como ela traz a ideia de líder de volta para a pessoa comum. Afinal, quem não se lembra de algum tipo de situação na sua vida onde foi preciso influenciar outras pessoas para se chegar a uma meta comum? Com os amigos, em casa, ao praticar esportes, no trabalho, é muito comum passarmos por situações de liderança segundo essa definição. Desde a viabilização do happy hour, ou da condução de uma reunião cotidiana, até a apresentação de uma proposta de projeto, produto ou mudança organizacional, fica claro que a pessoa líder emerge a partir da situação envolvida, ao contrário de ser designada a partir do cargo ou posição que ela ocupa.
Uma chave desse entendimento é a ideia de "situação". É claro que uma pessoa ocupando um cargo de chefia, ou de mais alta responsabilidade, passará mais frequentemente por situações de liderança. Mas todos vivemos um fluxo de situações ao longo da vida e é inevitável cairmos em algum momento nisso que estamos chamando de "situação de liderança". Em tal circunstância, de forma consciente ou não, a condição de líder nos é imputada e assim passamos a ser vistos e avaliados por quem precisa que tal papel seja adequadamente cumprido.
Em tal cenário, a realidade nos é apresentada como um processo. Northouse nos lembra que o fato de ser um processo nos abstém da necessidade de buscar qualquer traço ou característica que supostamente residiria de forma inerente no líder, ou seja, o que buscamos para identificar o fenômeno da liderança não está na pessoa, mas na relação.
A liderança seria, então, "uma transação que ocorre entre o líder e os liderados". Ambos se afetam e se adaptam em um movimento de dança similar a um casal que se embala ao ritmo de uma música. Só que ao invés de uma canção, temos uma situação, e ao invés de um casal, uma liderança e seu grupo influenciando um ao outro em direção a uma meta comum.
Aprender a liderar, nesse caso, seria como aprender a dançar.
A ideia de liderança situacional é uma das mais reconhecidas abordagens sobre o tema, sendo extensivamente utilizada em treinamento e desenvolvimento de líderes executivos em organizações. Ela assume a premissa de que diferentes situações requerem diferentes formas de liderar, ou seja, que não se trata de uma posição hierárquica, de traços de personalidade, ou de habilidades a serem desenvolvidas, mas, como na dança, de atenção e adaptação ao que cada situação demanda.
Assim, a liderança situacional traz a condição de líder em potencial para todos e todas, independente do cargo que ocupam. Não somos líderes, mas "estamos líderes" enquanto lidamos com situações que nos demandam influenciar as pessoas ao nosso redor rumo a uma direção de ganho compartilhado.
No próximo artigo preparatório para a Semana da Liderança de Alto Significado, vamos investigar um pouco mais sobre essa liderança situacional, quais são as dimensões pela qual ela se manifesta, e como líder e liderado precisam dançar para que o objetivo comum seja alcançado.